quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Historietas de Amor - Episódio 1

Naquele vilarejo era a mais antiga história de amor. Contavam-na sempre que ocorria uma separação de um casal que de fato, ao menos na língua daqueles homens e daquelas mulheres, se amavam. 
Ao contarem esta história, era de costume local não precisar datas e nem nomes. Desconfio que estavam, perdidos na longa noite do tempo. Os mais velhos insistiam, quando questionados, que em história tão antiga, não havia espaço e tempo, ou outra categoria, fruto da razão humana, invencionices, crendices filosófico-conceituais.
E o amor daqueles tempos eram puros que inomináveis. Se dizia que tais personagens apenas viviam juntos, como que grudados, inseparáveis, por que eram apenas um.
Para aqueles senhores e senhoras que diziam ter acompanhado tais eventos, não havia noite ou dia. A vida era um eterno amar-se, a si e a outros. Dores e nem impotências havia. Também impérios e desordens não os havia. Somente, havia somente somente.
Eis que um dia, não se sabe quem dos dois, decidiu-se por sair. Alguns diziam que foi ele, que decidiu comprar cigarro e não voltou. Outros que ela enlouquecera de ciúme, não se sabe ao certo de quem. E então, naquele vilarejo fez-se algo que até então não havia existido.
Surgiu o dia e surgiu a noite. Surgiu a culpa, o arrependimento e a vingança. Muitos dizem que toda manhã ele se levanta, quando a vê deitar-se. Outros que ela quem o busca no mesmo horário, quando ele dá os primeiros lampejos de que ainda está vivo. 
Há interpretações alternativas. Numa delas ele sai toda a noite, como quem foge da maluca. Em outras, é ela quem não o perdoa, afinal de contas, não gostava de viciados.
A verdade é que não mais se encontraram, embora um não exista sem o outro. Toda sorte de interpretação é coisa daquela gente desocupada. A verdade é que para os dois, aquela eternidade que tiveram um dia, havia sido suficiente. Era preciso viver até esgotar-se o tempo. Quem sabe um dia, se olhariam novamente?

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