terça-feira, 24 de maio de 2016

Linguagem, o mundo, as coisas*

Vivi os anos 90, como muitos amigos. Vi desemprego, vi o saque aos bens públicos, vi compra de deputados. Naquele tempo, se usava uma linguagem bem interessante, rebuscada, fina. A imprensa falava de empregabilidade, de privatização e de negociações entre parlamentares.
No universo da linguagem, sempre que temos de usar um termo que nos desagrade, usamos de EUFEMISMOS. Eles servem aos poderosos, porque o mundo, nada é sem a representação que fazemos dele por meio da linguagem. Assim, chamamos as atrocidades do capitalismo, que mata, explora, domina em nível mundial, da palavra linda e doce: globalização.
Quando o PT assumiu o poder, com todas as limitações e equívocos que sempre há nas esferas de poder, não os eximo de responsabilidade, os eufemismos sumiram. A deselegância foi a tônica da imprensa. Surgiram palavras como quadrilheiros, mensalão, petralhas, sapo barbudo, terrorista. Ou seja, o nome das coisas foram os mais pejorativos possíveis. Nem sempre traduzindo o que de fato ocorria. Investigados tornaram-se tão prontamente culpados. Críticas à imprensa foram tomadas como Censura.
Agora, voltamos ao curso normal. 
Golpe se chama Impeachment ou Pacto (poderia sofrer uma condensação: Impacto). Privatização é investimento privado em bens públicos. Cortes é limitação de gastos. Grampos ilegais são chamados de monitoramento estratégico. Invasão de privacidade de investigação jurídica. Escalada autoritária de limpeza da corrupção.
Corruptos que ascendem ao poder tratados como salvadores da pátria. Fascistas por homens de deus. O único nome que eles não podem esconder é o de Temer, que é isso mesmo. Por isso, fica fácil de dizer: Temer jamais. É apenas uma questão de quem manda no acento. Ou seria no assento?

*Inspirado no texto homônimo, do grande Eduardo Galeano, escritor uruguaio.