Todos os dias, em suas
férias, Zé Roberto despertava nas primeiras horas. Tomava o leite e
pedia benção a avó, vestia sua camiseta listrada do Corinthians e
descia um dos lados daquela ladeira. Com uma bola de capotão embaixo
do braço, acordava cada um dos vizinhos.
Se reuniam antes do sol queimar a pele, afinal era Verão naquele bairro, de uma média cidade da região metropolitana de São Paulo. Aos poucos, o sol começaria a queimar as peles deles, mas não sentiriam.
Suas chuteiras eram os pés descalços, gastos nas pontas dos dedos, com solas grossas. Antes da partida, caçavam tijolos de barro, riscavam a grande área e o círculo central. As linhas traçadas dariam inveja a qualquer pintor moderno rigoroso.
Se reuniam antes do sol queimar a pele, afinal era Verão naquele bairro, de uma média cidade da região metropolitana de São Paulo. Aos poucos, o sol começaria a queimar as peles deles, mas não sentiriam.
Suas chuteiras eram os pés descalços, gastos nas pontas dos dedos, com solas grossas. Antes da partida, caçavam tijolos de barro, riscavam a grande área e o círculo central. As linhas traçadas dariam inveja a qualquer pintor moderno rigoroso.
Naquele palco de grama
cerrada, retornaram batalhas épicas. Ali se jogou muitos Derbys,
muitas finais de Copa do Mundo.
Zé Roberto escolhia
Rivelino ou Sócrates, seus amigos que escolhessem pernas de pau.
Ademir da Guia, Pelé, Zico, todos presentes. Não havia juízes e
nem rádios narrando, mas havia uma plateia de vizinhos, indignados
com toda aquela euforia e algazarra dos pequenos peladeiros.
Diariamente, os ânimos
se acirravam entre os jogadores, pés e braços se misturavam no
gramado improvisado num chão de piche. As partidas duravam um ciclo
solar.
No último dia daquelas
férias, Betinho, como era chamado pelos amigos, aprontou a perna
esquerda e fulminou, certo de que acertaria o alvo, se o goleiro
tocasse a bola, perderia a mão, se passasse tocaria no travessão
imaginário e explodiria no fundo da rede.
Armou, correu, bateu. Num destes imprevistos, daqueles que aproximam o futebol dos acasos da vida, a bola bateu no travessão, bateu na guia, pulou o muro e saio do estádio, caindo dentro da casa de Seu Custódio.
Armou, correu, bateu. Num destes imprevistos, daqueles que aproximam o futebol dos acasos da vida, a bola bateu no travessão, bateu na guia, pulou o muro e saio do estádio, caindo dentro da casa de Seu Custódio.
Tentaram chamá-lo. Após
longo silêncio ouviram uma explosão. A bola jogada sobre suas
cabeças, murcha, definhada, morta.
- Chorei por duas semanas. Foi sem dúvida a minha mais dolorida separação. Até hoje escuto aquele estampido.
- Chorei por duas semanas. Foi sem dúvida a minha mais dolorida separação. Até hoje escuto aquele estampido.
Nunca mais, dizem os
daqueles tempos, voltou a se apaixonar. Cresceu, teve filhos. Mas a
vida nunca mais foi a mesma desde então.
- Fui traído, a bola
bateu numa trave que nem existia. Ela era minha amiga, companheira,
não tinha esse direito... lamenta-se.
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