Naquele
vilarejo era a mais antiga história de amor. Contavam-na sempre que
ocorria uma separação de um casal que de fato, ao menos na língua
daqueles homens e daquelas mulheres, se amavam.
Ao
contarem esta história, era de costume local não precisar datas e
nem nomes. Desconfio que estavam, perdidos na longa noite do tempo.
Os mais velhos insistiam, quando questionados, que em história tão
antiga, não havia espaço e tempo, ou outra categoria, fruto da
razão humana, invencionices, crendices filosófico-conceituais.
E
o amor daqueles tempos eram puros que inomináveis. Se dizia que tais
personagens apenas viviam juntos, como que grudados, inseparáveis,
por que eram apenas um.
Para
aqueles senhores e senhoras que diziam ter acompanhado tais eventos,
não havia noite ou dia. A vida era um eterno amar-se, a si e a
outros. Dores e nem impotências havia. Também impérios e desordens
não os havia. Somente, havia somente somente.
Eis
que um dia, não se sabe quem dos dois, decidiu-se por sair. Alguns
diziam que foi ele, que decidiu comprar cigarro e não voltou. Outros
que ela enlouquecera de ciúme, não se sabe ao certo de quem. E
então, naquele vilarejo fez-se algo que até então não havia
existido.
Surgiu
o dia e surgiu a noite. Surgiu a culpa, o arrependimento e a
vingança. Muitos dizem que toda manhã ele se levanta, quando a vê
deitar-se. Outros que ela quem o busca no mesmo horário, quando ele
dá os primeiros lampejos de que ainda está vivo.
Há
interpretações alternativas. Numa delas ele sai toda a noite, como
quem foge da maluca. Em outras, é ela quem não o perdoa, afinal de
contas, não gostava de viciados.
A
verdade é que não mais se encontraram, embora um não exista sem o
outro. Toda sorte de interpretação é coisa daquela gente
desocupada. A verdade é que para os dois, aquela eternidade que
tiveram um dia, havia sido suficiente. Era preciso viver até
esgotar-se o tempo. Quem sabe um dia, se olhariam novamente?
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