Poema publicado em 04/2014.
Quando digo que tenho algum valor
nesses loucos tempos
Algumas pessoas logo perguntam
Qual seria então meu preço?
Confundem quantidade, qualidade
Preço, coisa, utilidade
Acreditam que então podem me comprar
Quando digo que tenho valores
Pensam que é algo entre 37,50 e 50
reais
Dividido pela hora trabalhada
Mais alguns dissídios suplicantes
Umas migalhas
Alguns até subtraem uns descontos:
O estado, a sonegação fiscal, uns
centavos de erros de cálculo
Ainda assim acho que não mereço tanto
Não entendem, Oxalá,
Não podem entender
Meus valores não são preços
Embora eu tenha os meus
Quem aqui me pagaria uma montanha
Um pôr do sol, um amor de verdade?
Quem aqui me daria uma praia ao
entardecer
Uma fotografia nova
Um carro branco de 100 cavalos
Que me leve pela estrada do nada
Rumo a lugar algum?
Qual o preço da minha leveza?
Quem paga meu cardiologista?
E meu psiquiatra?
Quem me pagaria loucuras da terra do
nunca?
Quem me paga uma camiseta suja de
picolé da infância?
Um gol na tarde de domingo com meu pai?
Uma lua à noite com minha mulher?
Um suspiro
Um ah!?
E quem dera fossem valores
A medida de todos os valores...
Meus valores são meus amores
Uns centavos que sobram
Um riso sincero
Uma dor profunda
Meus valores não tem etiquetas
Em gôndolas de supermercado da vida
moderna
Meus valores são mais caros do que
vocês podem pagar
Meu preço é bem barato,
Um barato, né?
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